Instrumento de Avaliação Rápida da Alimentação da Criança com mais de 1 ano.

Fórmulas de 1 a 3 anos

Quando e como utilizar?

Instrumento de Avaliação Rápida da Alimentação da Criança com mais de 1 ano. IARA 1+

Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira de Almeida

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Desenvolvido para apoiar profissionais de saúde na prática clínica por:

Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida

Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida

Prof. Dr. Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida

  • Mestre e Doutor em Saúde da Criança pela USP
  • Pós-Doutor em Clínica Médica, Área de Nutrologia pela USP
  • Professor Adjunto II da Universidade Federal de São Carlos
  • Diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da ABRAN
  • Secretário do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Qual leite deve ser prescrito para a criança após 12 meses de idade?

Essa é uma pergunta que tem surgido com cada vez mais frequência nos consultórios de pediatras e nutricionistas. Pode-se dizer que:

Sempre que possível, o leite materno deve ser a fonte láctea de escolha, sendo recomendado até os 2 anos de idade ou mais.

Na sua impossibilidade, vários fatores devem ser levados em conta, como:

Demandas individuais da criança

Aspectos culturais da família

Contexto socioeconômico

Nessa fase, os laticínios são fundamentais, colaborando na ingestão de calorias, proteínas, carboidratos, lipídeos, e de alguns micronutrientes, tais como vitamina B12 e cálcio.

A escolha da melhor fonte láctea é fundamental e pode ser decisiva em vários aspectos relativos à saúde nutricional da criança.2

Fórmulas de primeira infância (1 a 3 anos)

  • Fórmulas de primeira infância são alimentos regulamentados pelo Codex3 e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), e são definidas como:4

    A fórmula de primeira infância no Brasil contém os principais nutrientes para essa fase: fibras, vitaminas, minerais e teor de proteínas ajustado para a faixa etária.

    Embora nutritivo, o leite de vaca possui baixo teor de ferro e alto teor de proteínas, o que pode aumentar o risco de anemia e obesidade.

  • ...fórmula infantil... de primeira infância: produto, em forma líquida ou em pó, utilizado quando indicado... para crianças de primeira infância (criança de doze meses até três anos de idade) sadias, constituindo-se o principal elemento líquido de uma dieta progressivamente diversificada...

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças com idades entre 1 e 4 anos devem receber 3 porções de laticínios por dia5, e a decisão sobre qual alimento pode ser efetivamente prescrito nessa faixa etária é extremamente relevante.6

No Brasil, a alimentação pediátrica é frequentemente inadequada7, havendo:

Desequilíbrio de oferta energética e proteica;

Ingestão abaixo das recomendações de diversos micronutrientes (vitaminas A, D, B12, C, ácido fólico, iodo, ferro, zinco);

Baixa ingestão de ácidos graxos da família ômega 3, especialmente de DHA.

Na impossibilidade do aleitamento materno, o leite de vaca não modificado pode ser o alimento responsável pela parte láctea da dieta de crianças de 1 a 3 anos. Entretanto, as fórmulas de primeira infância passam a ter um papel relevante em contextos em que o conjunto da alimentação se mostre incapaz de fornecer todos os nutrientes necessários.

Nesses casos, tanto a OMS8 quanto a AAP9 e a EFSA10 reconhecem que alimentos fortificados podem ser usados como veículo para garantir que vitaminas, minerais, fibras, lipídeos, antioxidantes etc, sejam adequadamente oferecidos à criança.

Além disso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em documento de 2023, reconhece que o leite, para a criança, configura-se um excelente veículo de fortificação.11

O uso de alimentação fortificada, conforme recomenda a OMS13, é infrequente. Nesse sentido, o leite é um excelente veículo de fortificação11, devido ao fato de ser consumido pela grande maioria das crianças e de poder ser ajustado para que, além da fortificação, apresente perfil proteico e lipídico mais próximo ao do leite materno.12

  • Vale destacar a importante observação da ESPGHAN de que as fórmulas de primeira infância também oferecem o benefício de conter menos proteína em comparação ao leite de vaca, o que contribui para uma ingestão proteica adequada, sendo um fator de proteção contra o desenvolvimento da obesidade.12

Sendo assim, as fórmulas de primeira infância não são alimentos mandatórios. No entanto, dois aspectos devem ser considerados:

1Se a alimentação habitual não é adequada, elas podem ser usadas como excelente veículo de fortificação para garantir a oferta de diversos nutrientes que podem estar insuficientes;12, 14, 15

2Embora o leite materno seja a opção ideal e seja bastante diferente do leite de outros mamíferos, na impossibilidade da amamentação as fórmulas de primeira infância são desenvolvidas com o intuito de se aproximarem do perfil nutricional e funcional do leite humano.5, 14

O Quadro 1 resume os principais papéis que as fórmulas de primeira infância podem desempenhar.2, 9, 10, 12, 14-16

  • Garantia da oferta da parte láctea da dieta.

  • Preservação dos nutrientes presentes no leite de vaca e que são relevantes para a saúde nutricional das crianças dessa faixa etária, tais como cálcio, fósforo e vitaminas B2 e B12.

  • Possibilidade de ajuste do leite de vaca com melhora da relação cálcio/fósforo e redução dos teores proteico e de sódio.

  • Presença de nutrientes que apresentam taxas elevadas de deficiência nutricional na população pediátrica, tais como ferro, iodo, zinco, fibras e vitaminas A, E, C e D.

  • Adição de ingredientes que promovem benefícios à saúde, tais como prebióticos e DHA.

Quadro 1 - principais papéis que as fórmulas de primeira infância podem desempenhar.

Dúvidas sobre o checklist? Entenda os detalhes de cada item.

1
São alimentos essenciais para a saúde, oferecendo antioxidantes, fibras, vitaminas, minerais e prebióticos que ajudam a modular a microbiota intestinal. A falta desse grupo, especialmente sem verduras e legumes, pode levar a deficiências vitamínicas e disbiose intestinal. O consumo deve ser "in natura", e sucos de frutas não são recomendados para crianças.
2
São fontes de vitaminas, minerais, fibras, antioxidantes e prebióticos. A falta desse grupo, especialmente sem frutas, pode levar a deficiências vitamínicas e minerais. Devido à importância das fibras, a ausência de verduras e legumes pode contribuir para a constipação intestinal.
3
Para essa faixa etária, recomenda-se o consumo de cerca de 19 gramas de fibras por dia. Esse total pode ser obtido com as porções recomendadas de frutas (3) e verduras e legumes (3), lembrando que outros grupos alimentares (cereais, feijões, etc.) também contêm fibras.
4
São as principais fontes de ferro, zinco e vitamina B12, devendo haver pelo menos 2 porções diárias. Os vegetais podem conter ferro e zinco, mas não são fontes adequadas desses minerais pois a biodisponibilidade é baixa. A vitamina B12 só é encontrada em alimentos de origem animal. Crianças que consomem apenas ovos terão oferta proteica e de vitamina B12 adequadas, mas o ovo não é fonte de ferro e zinco.
5
Carnes, ovos, laticínios e feijões são fontes de proteínas. O consumo excessivo nos primeiros anos de vida é fator de risco para obesidade. O ideal é o consumo moderado, definido em porções: carnes e ovos (2), laticínios (3) e feijões (1).
6
Alimentos ricos em carboidratos (especialmente amido) e que são fontes energéticas. O consumo abaixo do recomendado pode levar à insuficiência calórica, baixo ganho de peso e estatura, e prejuízo nas funções vitais, incluindo cognitivas. Apesar de o açúcar ser um carboidrato, ele não pertence a esse grupo.
7
Fornecem proteínas de alto valor biológico e lipídeos. Sua principal função na infância é oferecer cálcio de alta biodisponibilidade, sendo a principal fonte dietética desse nutriente e o baixo consumo pode levar à osteopenia. A lactose nos lácteos também tem efeito prebiótico. Para crianças com baixa ingestão de carne, os laticínios tornam-se o principal fornecedor de proteínas.
8
A maior parte da Vitamina D vem da produção cutânea mediante exposição à luz solar, entretanto os limites de exposição segura ao sol ainda não estão determinados. São fatores de risco: prematuridade; baixa exposição solar; pele escura; uso de protetor solar; uso de roupas cobrindo todo o corpo; viver em ambiente com poluição ou longe do equador; dieta pobre em fontes de vitamina D (salmão, sardinha, cavala, arenque, fígado); uso de alguns medicamentos (anticonvulsivantes, corticoides, etc), obesidade e doenças com má absorção.
9
Fornecem ácidos graxos essenciais da família ômega 3, precursores do DHA, que dependem de várias reações enzimáticas para serem sintetizados no organismo. Devido à imaturidade enzimática da criança, o ideal é consumir DHA já pré-formado, por meio da ingestão de peixes de água fria e profunda pelo menos 3 vezes por semana.
10
Bebidas adoçadas devem ser eliminadas da alimentação. A hidratação deve ser feita com água. Sucos 100% naturais podem complementar a ingestão de frutas, desde que não ultrapassem 125 ml (meio copo americano) por dia.

Referências:SBP. Manual de Alimentação: da infância à adolescência. 5 ed. Weffort VRS, editor. São Paulo: Departamento Científico de Nutrologia; 2024.
Philippi ST, Cruz ATR, Colucci ACA. Pirâmide alimentar para crianças de 2 a 3 anos. Rev Nutr [Internet]. 2003Jan;16(1):5–19.
Available from: https://doi.org/10.1590/S1415-52732003000100002

O que é 1 porção?

Conheça exemplos das principais porções dos diferentes grupos de alimentos.

Cereais, tubérculos e raízes

  • 2 colheres de sopa de aipim cozido/macaxeira/mandioca (48g), arroz branco cozido (62g) ou aveia em flocos (18g)

    1 unidade de batata cozida (88g)

  • 1/2 unidade de pão francês (25g)

    3 unidades de biscoito de leite ou "cream craker" (16g)

    4 unidades de biscoito com amido de milho (20g)

Frutas

  • 1/2 unidade de banana nanica (43g), caqui (50g), fruta do conde (33g), pera (66g) ou maçã (60g)

    1 unidade de caju (40g), carambola (110g), kiwi (60g), laranja pera ou lima (75g), nectarina (69g) ou pêssego (85g)

  • 2 unidades de ameixa preta (15g), vermelha (70g) ou limão (126g)

    4 gomos de laranja bahia ou seleta (80g)

    6 gomos de mexerica, tangerina (84g)

    9 unidades de morango (115g)

Verduras e legumes

  • 1 colher de sopa de beterraba crua ralada (21g), cenoura crua (20g), chuchu cozido (28g), ervilha fresca (10g) ou couve manteiga cozida (21g)

    2 colheres de sopa de abobrinha (40g) ou brócolis cozido (27g)

  • 2 fatias de beterraba cozida (15g)

    4 fatias de cenoura cozida (21g)

    1 unidade de ervilha torta ou vagem (5g)

    8 folhas de alface (64g)

Carnes em geral e ovos

  • 1/2 unidade de bife bovino grelhado (21g), filé de frango grelhado (33g), omelete simples (25g), sobrecoxa de frango cozida (37g)

    1/2 fatia de carne bovina cozida ou assada (26g)

  • 1 unidade de espetinho de carne (31g), ovo cozido (50g), moela (27g) ou 2 unidades de coração de frango (40g)

    2 colheres de sopa rasas de carne bovina moída refogada (30g)

Laticínios

  • 1 xícara de chá de leite (182g)

    1 pote de bebida láctea, iogurte de frutas (120g) ou iogurte de polpa de frutas (130g)

    2 colheres de sopa de leite em pó (30g)

  • 3 fatias de muçarela (45g)

    2 fatias de queijo minas (50g) ou pasteurizado/prato (40g)

    3 colheres de sopa de queijo parmesão (30g)

Óleos e gorduras

  • 1 colher de sobremesa de azeite de oliva (4g) ou óleo de soja/canola/milho/girassol (4g)

  • 1 colher de sobremesa de manteiga ou margarina (5g)